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Catalão: No tempo da escravidão

de Antônio Paulino
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(Por Luís Estevam)

O município de Catalão ficou conhecido como terra de coronéis e jagunços, durante longo período de sua história. No entanto, foi também, durante mais de cem anos, uma terra de escravos.


Muito antes da chegada dos imigrantes estrangeiros e do tempo dos intendentes (prefeitos), Catalão foi, depois de Goiás Velho, a cidade que teve o maior número de escravos em toda a província de Goiás. Em 1875, Goiás Velho tinha 1407 escravos e Catalão 1105 pessoas escravizadas. São muitos os documentos de compra, venda, hipoteca, permuta, doação e até mesmo carta de liberdade a escravos no município de Catalão. São registros de um tempo de servidão quase esquecido na memória local.


Coronéis, como Roque Alves de Azevedo, Antônio da Silva Paranhos e padres, como Luiz Antônio da Costa e Antônio Felipe da Silveira, possuíram e negociaram vários cativos. Assim como também famílias de destaque, como a de Francisco Victor Rodrigues e a de Thomasia Netto Carneiro, negociavam escravos conforme mostram registros cartoriais em Catalão.
No território de Goiás, o escravismo começou nas minas de ouro em Goiás Velho, Pirenopolis, Santa Cruz e Pilar que tiveram grande contingente de africanos no século XVIII. Dado que o ciclo do ouro pouco durou, a escravaria foi sendo deslocada para a agricultura.


Os escravos, em Catalão, vieram de Minas Gerais (Paracatu e Triângulo Mineiro) trazidos por fazendeiros que aqui chegaram em busca de terras férteis durante o século XIX. Em 1875, no registro imperial, o plantel atingiu 1105 escravos no município.
Treze anos antes da abolição, a profissão da maioria dos escravos em Catalão era classificada como sendo de “jornaleiros”. Eram escravos de ganho ou de aluguel e tinham menos de 40 anos de idade. Moravam em ranchos ao longo do ribeirão Pirapitinga e nas proximidades do alto São João onde existiu a Rua dos Pretos, uma espécie de senzala urbana.


Cerca de um terço do plantel residia em fazendas, ocupado na agricultura. O escravo, na pequena lavoura e na pecuária, recebia um tratamento de confiança por força de sua ocupação, trabalhando isolado no mato. Mas, a violência foi sempre à mesma. Era tratado como animal que se compra, vende e castiga sem interferência jurídica ou social. A maioria dos escravizados, sendo jornaleiros, tinha ocupação urbana. O escravo de ganho (jornaleiro) gozava de certa autonomia, podendo circular livremente pelas ruas na prática de algum ofício. Pagava uma diária a seu dono, caso contrário, ficaria impedido de exercer o ofício e recebia duros castigos.


Os homens se tornavam artesãos, carregadores, barbeiros, vendedores e até mesmo artistas. As mulheres buscavam pagar suas diárias como cozinheiras, amas de leite, tecedeiras, fiandeiras, quitandeiras e até mesmo com a prostituição. Na segunda metade do século XIX, alguns fazendeiros de Catalão incentivaram a fundação da Irmandade N.S. do Rosário dos Pretos. De um lado estavam os cativos com sua religiosidade, crenças e esperança em uma nova existência. Do outro lado, os donos de escravos que temiam a abolição. Havia, na época, uma convicção nacional de que, “quem se diverte não conspira”. Daí o apoio aos festejos da escravaria.


A abolição veio em 1888, mas desacompanhada de qualquer amparo para os libertos. Os negros e mestiços não foram promovidos à condição de plenos cidadãos. Ficaram abandonados à própria sorte, sob formas disfarçadas de trabalho mal remunerado. A página do escravismo em Catalão ainda não foi suficientemente pesquisada. Mas contém a chave de entendimento do quadro social no município.

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