Enquanto assistia à cerimônia de casamento de duas presas, celebrado por um juiz de paz na Penitenciária Feminina I de Tremembé, há cerca de 15 dias, Suzane Richthofen deu uma declaração pouco romântica. Perguntada se desejava se casar com Sandra Regina Ruiz Gomes, condenada a 24 anos pelo sequestro seguido de morte de um garoto de 14 anos, afirmou: “Não quero me casar não”. Suzane se relaciona com ‘Sandrão’ há pelo menos dois anos – e desde setembro vive com a parceira em uma cela especial, destinada às presas casadas.
Mas a relação foi formalizada apenas por meio de um documento de reconhecimento de relacionamento afetivo, exigido pela administração do local. A resposta da jovem condenada pela morte dos pais é um indício de como as relações amorosas estabelecidas dentro da prisão são bem diferentes das mantidas fora das grades. Embora sejam muitos os pares formados por presas em Tremembé, são poucas as que celebram a união. Mais do que um vínculo afetivo, o namoro entre presas faz parte da dinâmica do encarceramento, em que detentas mais influentes emprestam seu capital de liderança à companheira escolhida – e tiram proveito do relacionamento para obter benefícios, como ocupar as celas maiores, destinadas somente às casadas. Atualmente, no presídio de Tremembé, a cela das casadas na ala das condenadas por crimes hediondos é dividida por Suzane, Sandra e mais sete casais.
De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), a prisão feminina de Tremembé abriga 212 detentas.