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Um cidadão chamado “Sapo”

de Antônio Paulino
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A Academia Catalana de Letras ressalta que, algumas pessoas de origem mais humilde, marcaram a história de Catalão de uma maneira muito peculiar. Uma delas foi o Sapo, morador da antiga Rua do Pio, que viveu na metade do século passado. Na época, a Rua do Pio não era bem uma rua, mas um aglomerado de pequenas casas habitadas por operários. O local ganhou esse nome porque, Pio Gomes da Silva, vereador e cerealista, tinha sua residência e comércio bem na entrada do bairro, servindo de referência para transeuntes e moradores.

A bem da verdade, o Sapo não era catalano de nascimento. Viera de uma pequena cidade da Bahia, chamada Beija-Flor, acompanhando seus pais em busca de novas oportunidades de trabalho. Seu pai (Belmiro) era ferreiro experiente e instalou uma tenda nas imediações da Rua do Pio, onde prestava serviços artesanais de metalurgia. O Sapo, desde criança, ajudava o pai na ferraria, nunca encontrando tempo para se dedicar à escola. Na verdade, em toda a sua vida, aprendeu somente a ler e a assinar o próprio nome: Osvaldo Rodrigues.

No final da década de 1940, como todos os jovens do bairro, empregou-se na charqueada e curtume da família Margon, tendo sido trabalhador braçal a vida inteira. Destacou-se, logo cedo, por ser criativo, responsável e esforçado nos seus empregos. Mas, tinha outras qualidades. Dono de uma alegria contagiante, tinha sempre uma piada pronta para amenizar as situações difíceis e revelava uma liderança espontânea em todas as áreas em que atuou.

O Sapo era incansável. Depois do expediente tinha sempre o que fazer. Não perdia uma partida de futebol, ou um passeio no parque de diversões; uma novena ou uma reunião de amigos; um pagode ou um simples botequim. Participava de quase tudo na comunidade. Tornou-se conhecido como leiloeiro, churrasqueiro, músico, seresteiro, congadeiro, peão, goleiro, sindicalista, político, além de pedreiro, eletricista e carpinteiro.

Os mais antigos sabem que, Totonho Fogueteiro, Porquinho e Sapo foram os mais animados leiloeiros de Catalão, imprescindíveis nas festas e novenas do município.

Osvaldo era também músico, tocava violão, cantava em dupla com sua filha, e tocava bumbo na banda de música Furiosa, que ajudou a criar. Foi capitão do terno de congo Pio Gomes durante toda a vida. Amante dos esportes, dirigiu um time de futebol (7 de Setembro) onde jogava no gol. Inclusive, ganhou um lote por ter defendido um pênalti e construiu, ele próprio, uma casa no terreno, onde morou o resto da vida. Gostava de competições. Destemido, chegou a montar cavalos bravios nos circos e parques de diversões em Catalão, competindo com afamados peões da região. Casou-se com uma moça do bairro (Bárbara) com quem teve onze filhos. Sua esposa foi, de fato, muito compreensiva, porque o Sapo estava sempre atrás de uma bola, ou de um rabo de saia, ou junto de uma cerveja.

Foi eleito vereador por duas vezes, sempre apoiado pelo líder João Netto de Campos. Mas, continuou sendo operário porque, na época, a Câmara Municipal não pagava salários e a importância do cargo era somente política. Enfim, o Sapo, com emprego fixo e com tantas outras atividades, amealhou grande popularidade e, ao mesmo tempo, ganhou vários desafetos. Ao longo da vida enfrentou muitas discussões e travou brigas pessoais, quase sempre para defender os amigos. De certa feita, por exemplo, chegou a ficar foragido da polícia por um longo período.

Apesar de tudo, os antigos moradores do bairro relembram com saudade as peripécias do velho companheiro. Sapo, o baiano que se tornou líder comunitário, faleceu aos 76 anos e virou nome de rua no bairro Pio Gomes: Rua Osvaldo Rodrigues.

(Luís Estevam)

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