A Academia Catalana de Letras recorda que, durante muitos anos, até a década de 1940, o centro religioso e de lazer em Catalão, era o Largo da Velha Matriz. Na verdade, era chamado de Largo da Matriz porque a Nova Matriz ainda não existia.
De qualquer forma, a conhecida Velha Matriz começou a ser construída por volta de 1873 pelo Cel. João de Cerqueira Netto, em cumprimento a promessa feita por seu pai, devoto de N.S. do Rosário. A igreja foi levantada bem devagar, ao longo dos anos, no centro de um enorme terreno, inteiramente vazio, bem defronte ao antigo colégio Sagrada Família (hoje uma revenda de automóveis).
A torre da igreja foi levantada de frente para a Rua da Grota, na época, o centro industrial e comercial de Catalão. Nessa torre, imponente e magnífica, foi instalado um par de sinos que marcava as horas mais importantes do dia, convidando os fiéis para cerimônias religiosas, inclusive, fúnebres. Os enterros partiam obrigatoriamente da igreja e os acompanhantes iam a pé até o cemitério. Primeiro, até o velho cemitério (hoje, Praça Duque de Caxias), depois, até o cemitério municipal (acima do estádio do Crac). Em ambos os trajetos, a distância não era grande. Ao ver o cortejo fúnebre, os transeuntes tiravam o chapéu em sinal de respeito e os comerciantes baixavam as portas das lojas. Povo religioso que só. Na hora do angelus, o alto falante do Largo tocava a Ave Maria de Gounot, entrecortada com o bater compassado dos sinos, tornando o por do sol um momento de reflexão e melancolia.
Assim, em torno da Velha Matriz, também eram realizadas as festas religiosas, além de procissões e outros rituais. Na ocasião eram montadas
barraquinhas de algodão doce, cachorro quente, pipocas e bebidas. Nas festas juninas, por exemplo, erguiam coreto para o leiloeiro angariar fundos beneficentes, animados pelo barulho de foguetes, principalmente do Totonho Fogueteiro, sempre experimentando suas invenções com os artefatos.
No Largo também se instalavam circos de cavalinho, geralmente com animais selvagens e domesticados. Vez por outra, aparecia um parque de diversões e a roda gigante animava as noites catalanas, além das barraquinhas de jogos de azar, de espingardinhas descalibradas e comes e bebes.
Em dias normais, o Largo da Velha Matriz era o ponto de encontro da meninada. Brincadeiras de finca, bolinhas de gude, peteca, bete e partidas de futebol eram diárias.
Na década de 1960, um grupo de estudantes catalanos, liderado por Amin Safatle, criaram e desenharam um plano de urbanização para o Largo da Velha Matriz. O prefeito Leovil Evangelista da Fonseca implementou as obras de acordo com o projeto transformando o velho terreno, em 1967, em um lindo cartão postal para a cidade. Tanto que, a Velha Matriz se tornou o local preferido para casamentos, batizados e comemorações católicas da Paróquia Mãe de Deus.
(Luís Estevam)
Fonte: livro de Amin Safatle